Posted: sexta-feira, 23 de julho de 2010 by Monty Cantsin in
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Comunicamos o incomunicável,
esbanjamos o que sempre falta,
duplicamos o já duplicado,
fragmentamos a metade do meio
mas mesmo assim ainda sobra um pouco de espaço,
sobra tempo para uma música, uma dança,
sobra o tempo da criança,
sobre as costas do adulto
sombra e água, fresca brisa,
um botão de rosa na camisa,
a forca aos inocentes
e ouro ao rei do nada,
ao homem de lugar nenhum a foice,
ao sábio o que é mundano,
e ao mundo o que é do mundo,
tudo em seu devido lugar.

Na corda do relógio,
os ponteiros da incerteza,
no amplo espaço do tempo
as fases da demência,
aos tolos o que é dos tolos,
ao mundo o que é do tempo,
ao tempo o que é do louco,
ao sábio o que é do pouco,
ao muito o que é do nada,
aos poucos, o que enlouquece
enobrece a vida,
aos muitos nada entardece,
nunca é dia de inverno.

Alivio Diario

Posted: sábado, 17 de julho de 2010 by Monty Cantsin in
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Fugiu,
ficou abandonada
falou,
fingiu fincar bandeiras
formou
seus planos de conquista
correu
morou em ipanema
mascou
chicletes coloridos
mofou
no alto de armários
mesclou
com ódio e inocência
o saber
falar com indiferença
sorrir
passou por desenganos
chutou
contida por si mesma
irá
contar, cavar buracos
morrer.

Todas as manhãs

Posted: sábado, 3 de julho de 2010 by Monty Cantsin in
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Todos os dias acordo pela manhã e espero que ela venha correndo até mim e pule em meu colo com seu jeito estabanado de sempre ser, fico esperando a todo momento que a porta se abra e por trás dela eu possa ver seu sorriso brilhante, digamos que até certo ponto, infantil; ainda espero todos os dias acordar pela manhã sentindo cheiro de café recém passado, ficar encostado no batente da porta simplesmente assistindo sua alegria matinal, dançando e cantando de pijama na cozinha; todos os santos dias eu espero que quando a noite chegar ela possa escutar meus lamentos de um dia estressante, que possamos juntos, sentar no sofá e assistir algum programa meia boca ou o telejornal diário enquanto passo a mão por seus cabelos, faço comentários livres de qualquer graça... mas ela ri.
Todos os dias acordo pela manhã e espero ouvi-la cantando “ I don’t wanna miss a thing” enquanto se banha, espero que reclame por eu não ter enxugado o banheiro direito, por ter deixado a toalha molhada em cima da cama, por estar sempre atrasado, sempre despreocupado, que reclame de meu cabelo, minha barba que espeta, minha meia no teto, minha fala correta, meu dedo no bolo, meu sono profundo.
Todos os dias, acordo pela manhã e dou por mim... dou uma topada com o dedo mindinho na realidade e me reconforto com meu cigarro amassado e meu café mal passado enquanto aprecio aquele estranho quadro a óleo pendurado em minha sala de estar que tudo diz, aquele labirinto de sensações e cores que me faz vislumbrar um mundo novo a cada momento, todas as cores do borrado cotidiano ganham mais vida quando caminho por aquela estrada uniforme tocando as flores sem forma que para mim, são o maior exemplo da perfeição; o contraste de cores e odores me faz partir daqui para outro lugar, um lugar desconhecido que até hoje não sei como faço para chegar, mas sei, que lá esta ela a minha espera, como em todas as manhãs, como em todos dias frios.
Todos os dias ainda acordo pensando que tudo pode ser diferente quando caminho pela casa fazendo eco com meus passos pesados, quando fico estático na janela por horas me divertindo com a felicidade alheia.
Todos os dias o mesmo pensamento aparece e desaparece em um ritmo frenético, alucinante, pronto para fazer com que o mais forte dos soldados se ajoelhe e peça perdão a Deus pelos males que já causou.
Todos os dias ainda encaro a porta em determinado horário esperando por algo que não ira acontecer, algo que não mais existe, algo que habita o surreal plano das recordações bem vindas.