A descoberta

Posted: domingo, 31 de outubro de 2010 by Monty Cantsin in
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Romenos bradaram,
eu e você estávamos sozinhos,
enquanto sonhos,
não mais que absurdos,
sou assim,
menos, menor, mínimo,
pequeno,
corroído e suspenso.
Solidária companhia
minha
sua
onde está você?
Comigo não
sozinho estou
desejando ser conquista
sou menos,
em dias de noite chuvosa
menor.

Ela

Posted: terça-feira, 19 de outubro de 2010 by Monty Cantsin in
0

Ela deu um passo em falso... desequilibrou-se

atentou-se a detalhes miúdos e frágeis... tropeçou

tendo em mente seu ato otimista de cura... tropeça

descobre que ama seu mundo e dedica-se a ele... mas cai


Ela talvez escolheu se matar por ternura... clemência

por medo de vê-lo chorando sozinho... sujeita-se

a opor seus sentidos covardes em flores... tropeça

e inicia o romance que a leva a loucura... então cai


Ela discute seus planos de fuga sozinha... mas erra

completa maluca carente, incoerente em seus atos... se engana

disfarça seu medo entre ursinhos de pano... se perde

nos sonhos de dias perfeitos em cores... mas cai


Ela disfarça vontades em cenas de sexta... e voa

entre nuvens douradas de filmes antigos... e plaina

em seus mundos criados com base naqueles que ama... então para

e sem mais se descobre pedaços rompidos de tudo que foi... então cai

Gasto

Posted: domingo, 17 de outubro de 2010 by Monty Cantsin in
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A sola da bota esta gasta, no todo, ressecada.
Os palitos mastigados nas duas extremidades, úmidos ainda.
O cinzeiro trasborda algo além de cinzas e bitucas.
Os livros estão rabiscados, os copos vazios, a parede... esburacada.
As latas estão enferrujadas, as juntas estão rançosas.
Os papéis espalhados pelo chão, o bolor pelo teto e a poeira por baixo da cama.

O sangue coagulado, a visão turva, a informação ultrapassada.
As cordas do violão estão estouradas, as revistas rasgadas.
O guarda-roupas esta vazio, as fotos amareladas.
O leite esta derramado não mais adianta chorar,
o óculos esta embaçado, o cobertor não mais protege do frio.
As velas estão derretidas mas ainda quentes,
no vaso, as flores procuram por sol.

Na boca os dentes gastos, nos olhos leve fogo,
o rosto reserva os traços daquele que ainda ama,
o corpo passa a ficar dolorido, os movimentos limitados.
As portas rangem feito filmes do passado,
um filme já visto diversos vezes, os diálogos... decorados,
as cartas descansam na cabeceira da cama,
os bilhetes na porta da geladeira não mais dizem nada,
os votos de felicidade eterna não mais significam nada,
os versos rabiscados nada mais dizem a não ser o óbvio,
as pernas não mais percorrem longos caminhos,
o copo de vinho é pesado, os nuances do dia são foscos,
e mesmo que houvesse uma escolha,
uma folha esperando a caneta,
nada teria a ser dito, nada seria escrito com sangue,
e mesmo que houvesse uma folha,
uma escolha esperando atitude,
nada teria a ser feito, nada seria escolhido de fato,
e mesmo que houvesse um caminho,
claro, nada difuso, iluminado,
não haveria de ser percorrido, seria caminho dos contos de fadas.

O osso esta mastigado, o piso quebrado,
o rosto cansado, o sofá desconfortável, o tapete manchado com tinta.
Os olhos ainda esperam por algo,
o coração ainda espera por algo,
a própria espera esta esperando por algo,
e ainda que houvesse tempo de sobra,
restaria somente a espera,
a vaga lembrança,
a discórdia final.

Posted: segunda-feira, 16 de agosto de 2010 by Monty Cantsin in
1

O amor que me deixa confuso
é aquele que meche com o tal fuso-horário
do meu coração.

É aquele que muda da noite para o dia,
te amo, te quero,
não vou mais lhe ver.
É aquele que digo amor no sentido egoísta,
aquele que chove nos dias de sol.
É o amor que nasceu sepultado
surgido na ânsia
do sim quero amar.

Posted: quinta-feira, 12 de agosto de 2010 by Monty Cantsin in
0

Minha amada
levantou sem camisa,
deu um tapa na cara com força,
apertou a si mesma,
um abraço caloroso
digno do próprio respeito,
se encantou com sonhos passageiros
deu-se um beijo
e foi se deitar.

Posted: sexta-feira, 23 de julho de 2010 by Monty Cantsin in
0

Comunicamos o incomunicável,
esbanjamos o que sempre falta,
duplicamos o já duplicado,
fragmentamos a metade do meio
mas mesmo assim ainda sobra um pouco de espaço,
sobra tempo para uma música, uma dança,
sobra o tempo da criança,
sobre as costas do adulto
sombra e água, fresca brisa,
um botão de rosa na camisa,
a forca aos inocentes
e ouro ao rei do nada,
ao homem de lugar nenhum a foice,
ao sábio o que é mundano,
e ao mundo o que é do mundo,
tudo em seu devido lugar.

Na corda do relógio,
os ponteiros da incerteza,
no amplo espaço do tempo
as fases da demência,
aos tolos o que é dos tolos,
ao mundo o que é do tempo,
ao tempo o que é do louco,
ao sábio o que é do pouco,
ao muito o que é do nada,
aos poucos, o que enlouquece
enobrece a vida,
aos muitos nada entardece,
nunca é dia de inverno.

Alivio Diario

Posted: sábado, 17 de julho de 2010 by Monty Cantsin in
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Fugiu,
ficou abandonada
falou,
fingiu fincar bandeiras
formou
seus planos de conquista
correu
morou em ipanema
mascou
chicletes coloridos
mofou
no alto de armários
mesclou
com ódio e inocência
o saber
falar com indiferença
sorrir
passou por desenganos
chutou
contida por si mesma
irá
contar, cavar buracos
morrer.

Todas as manhãs

Posted: sábado, 3 de julho de 2010 by Monty Cantsin in
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Todos os dias acordo pela manhã e espero que ela venha correndo até mim e pule em meu colo com seu jeito estabanado de sempre ser, fico esperando a todo momento que a porta se abra e por trás dela eu possa ver seu sorriso brilhante, digamos que até certo ponto, infantil; ainda espero todos os dias acordar pela manhã sentindo cheiro de café recém passado, ficar encostado no batente da porta simplesmente assistindo sua alegria matinal, dançando e cantando de pijama na cozinha; todos os santos dias eu espero que quando a noite chegar ela possa escutar meus lamentos de um dia estressante, que possamos juntos, sentar no sofá e assistir algum programa meia boca ou o telejornal diário enquanto passo a mão por seus cabelos, faço comentários livres de qualquer graça... mas ela ri.
Todos os dias acordo pela manhã e espero ouvi-la cantando “ I don’t wanna miss a thing” enquanto se banha, espero que reclame por eu não ter enxugado o banheiro direito, por ter deixado a toalha molhada em cima da cama, por estar sempre atrasado, sempre despreocupado, que reclame de meu cabelo, minha barba que espeta, minha meia no teto, minha fala correta, meu dedo no bolo, meu sono profundo.
Todos os dias, acordo pela manhã e dou por mim... dou uma topada com o dedo mindinho na realidade e me reconforto com meu cigarro amassado e meu café mal passado enquanto aprecio aquele estranho quadro a óleo pendurado em minha sala de estar que tudo diz, aquele labirinto de sensações e cores que me faz vislumbrar um mundo novo a cada momento, todas as cores do borrado cotidiano ganham mais vida quando caminho por aquela estrada uniforme tocando as flores sem forma que para mim, são o maior exemplo da perfeição; o contraste de cores e odores me faz partir daqui para outro lugar, um lugar desconhecido que até hoje não sei como faço para chegar, mas sei, que lá esta ela a minha espera, como em todas as manhãs, como em todos dias frios.
Todos os dias ainda acordo pensando que tudo pode ser diferente quando caminho pela casa fazendo eco com meus passos pesados, quando fico estático na janela por horas me divertindo com a felicidade alheia.
Todos os dias o mesmo pensamento aparece e desaparece em um ritmo frenético, alucinante, pronto para fazer com que o mais forte dos soldados se ajoelhe e peça perdão a Deus pelos males que já causou.
Todos os dias ainda encaro a porta em determinado horário esperando por algo que não ira acontecer, algo que não mais existe, algo que habita o surreal plano das recordações bem vindas.

Olhos Tristes

Posted: quarta-feira, 30 de junho de 2010 by Monty Cantsin in
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Por que me olhas com olhos tão tristes?
Por que conquista-me com olhos tão irresponsáveis,
olhos perdidos em seu próprio tempo?
Por que me repele com olhos tão tristes, olhar taciturno?
O nobre, a dama, o vagabundo,
um dia qualquer que se passa,
um outro dia comum para o mundo,
um outro dia plantado em casa,
com olhos tristes, cabeça baixa,
aonde quer chegar? Qual estrada olhos assim avistam?
Olhos que vêem o fim do mundo antes de todos,
tristes, pois transformam dor em alegria.
Por que me olhas com olhos tão tristes?
Será que o mundo é de fato tão sádico, tão problemático?

A frente nada mais existe, aos lados, quem sabe,
o passado então transforma-se em angústia
quando deveria ser recordação bem-vinda,
recordação passa a ser tragédia, o intento do eterno machuca,
o eterno não existe, tudo acaba, um dia acabaremos,
um dia nada mais sobra da cabeça que pensa,
nada mais sobra dos momentos felizes,
nada mais sobra dos momentos tristes,
não sobram nem mesmo os momentos,
não sobra nem mesmo o resto do resto.
Por isso então hei de carregar olhos triste,
hei de carregar o mundo nas costas,
as dores no coração, as lembranças na cabeça,
a faca nas mãos e as botas nos pés.
Por que olhos tão tristes e lágrimas tão salgadas?
Por que tanta falta de cor, tanta nebulosidade?
Por que tanta lembrança, tanta saudade?
Por que falar tão pausado, sentir tão recluso?
Por que se interrompe com tantas paradas?
Por que se desgasta com falta de uso?

Por que me olhas com olhos assim tão tristes?
Por que me olhas com olhos assim tão tristes?

Abismo

Posted: sábado, 12 de junho de 2010 by Monty Cantsin in
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É onde encontram-se os grandes homens, as grandes decisões,
é ponto final ou começo de tempo novo sem fim,
o altar das demências, o torpor da inocência,
no abismo as decisões são corretas,
no abismo e somente no abismo,
as loucuras são louváveis,
os amantes, amados,
no abismo, no fim,
no começo,
abismo.





Pensamentos intransigentes não levam ao topo, não morrem sem cor,
são meros instrumentos da lavoura dos maus augúrios,
a falta de controle representa a fraqueza necessária,
a fraqueza que enobrece, maltrata, engrandece,
e torna a ser fraca novamente, no abismo,
a franqueza de todos é fato,
os problemas são falsos,
a escolha, é faceira
o resultado?
Abismo.





No abismo os que se encontram se sabem menos do todo ou do nada,
se sabem sem saber o que de fato representa o verbo,
se impulsionam lado a lado, ombro a ombro,
contra o vento, contra o erro, abismo,
desespero, mas não derrota,
cansaço, dores lancinantes,
o fim no recomeço,
o nada no total,
pensar enfim,
abismo.



No abismo os sentimentos se reúnem, festejam o fato de serem soberanos as vezes,
a razão não desce, a razão não sobe, é simplesmente razão, analítica, fria,
os que se salvam não esperam poder pensar, poder viver, poder amar,
pois depois do fim, depois do abismo, depois de tudo, algo muda,
e se assusta... afaga com mãos de donzela, se maltrata... beija,
se machuca logo cura, nunca se estende, o abismo não mata
não morre, não vive sem viver, abismo
espera simplesmente o dia, o treino,
a coisa que homem do mundo,
precisa, e deve de fato saber,
para assim ser chamado,
homem do mundo,
herói vagabundo,
ser homem,
no abismo.




As regras são folhas que voam, pedaços de letras na nuca dos tolos,
são o principio, a exceção, a necessidade desnecessária,
a jaula dentro do abismo, a forma que diz trapaceira,
no fundo do abismo a luz brilha forte, insana,
o pensar em seu nível supremo se faz,
não sem querer, não aleatório, e sim
torna o pensar do ser soberano,
em questão dos sentidos,
sentimentos batidos,
atordoado sentir,
gostoso, cruel,
supremo,
abismo.

Posted: quinta-feira, 10 de junho de 2010 by Monty Cantsin in
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Chega a noite e um homem chora, um choro abafado, dolorido, envergonhado.
Um choro de criança, lágrimas violentas, insanamente graciosas, puras.
Um homem chora enquanto o mundo todo sorri,
um homem que escolhe sua própria liberdade de não escolher, atônito,
selvagem, meramente homem, puramente homem, nada mais que nada,
talvez uma gota, ou simples acaso,
quem sabe até mesmo matéria, excesso de formas,
um dia um paspalho, no outro também.

Um homem que escolhe errado,
um simples homem, uma dádiva, uma dúvida, um folclore,
pedaço de tronco, pastilha no asfalto, solitário e não sozinho,
derrotado, ameno, o homem não sabe, o homem não faz,
se vive... é por simples convenção, habito, costume.
Nada foi homem, nunca foi mundo, partícula,
o cume de suas próprias entorpecentes visões declina,
o faz vislumbrar o céu, o limite, e a honra de homem que é forte,
não chora, não se entristece, não morre.
Durante a noite, um homem chora,
a dor do mundo, a fortaleza desaba, um choro comum de todos que choram,
sentidos?
Na dor não existem sentidos, é puramente escolha,
Arbitrária? A dor não é arbitrária, é frágil, é bela
germina na arte sementes de angústia, floresce, negras rosas,
velhas orquídeas, meros jasmins.
O homem não chora, o homem não morre, o homem não sabe viver,
a arte é quem mata, a arte é quem sofre, o poeta ?
Um simples instrumento da alma que chora,
um homem que chora, razões? Quem precisa de razões?
Um homem chorando já basta,
as dores do mundo no peito de um só.

Posted: sábado, 5 de junho de 2010 by Monty Cantsin in
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Pensamentos se tornam palavras

(lentamente)

o coração parece não bater,

as idéias parecem estar batidas

(remoidas)

misturadas e absurdas

(vazias)

A vontade de querer se torna

(fraca)

a moleza do dizer se torna

(angústia)

quando tudo que se quer é uma

(faca)

para dividir em dois pedaços

(pensamentos)

Posted: terça-feira, 27 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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Se quiseres concordar não diga sim
não tente discordar meneando a cabeça de um lado a outro freneticamente,
apenas impeça que a boca dispare palavras sem face,
rumores descompassados, frágeis e desalinhados pensamentos
que culminam a ponto algum, perdem-se na leveza dos dizeres profanos,
na demência dos altos e baixos.
Não tente culpar a falta de inocência do presente pelos seus atos sórdidos
a infância não dura para sempre, é necessário crescer um dia.
A liberdade é apenas um jogo de azar e não existe vitorioso, a sorte é uma garotinha envergonhada que morre de medo de colocar a cara para fora de casa, não tente culpa-la também por ser tão mimada, não tente livrar-se da culpa de viver sem ter amor.
Se quiseres concordar não diga sim,
não venha até mim com pés descalços e mãos cheias,
mantenha a distancia para que eu não lhe machuque com minhas palavras tolas, para que eu não lhe magoe com minhas palavras rudes, meu modo de ser estúpido, meu respirar arfante diante de tudo que me desagrada.
Suas unhas estão sujas de terra,
meu peito este recheado de idas e vindas inconscientes e meu rosto esta marcado pela dança desajustada dos ponteiros bicolores mas ainda assim não me culpe, não atire porcelana e saliva envenenada em minha direção, sou apenas comum, mais um com pensamento desigual, com modo de vida irregular, perdido no meio de vícios e falsas ilusões de noites mal dormidas.
Vista sua melhor camisa com dizeres revolucionários, crie sua própria cartilha de fobias e se afaste do trem no período matinal, venha comigo alimentar os pombos na praça central e se possível, venha comigo nadar no mar de minhas própria incertezas.
Se quiseres concordar não acentue por demais a palavra sim, não repita as mesmas palavras que eu disse para tornar meu surrealismo menos abstrato, menos positivo. Houve um dia em que as desilusões eram como fim do mundo, e a rotina era o mal maior a ser combatido, os guerreiros embriagaram-se com vinho durante noites e dormiram feito criança cansada, os sábios erraram mais de uma vez e o fariseu decidiu que era tempo de rumar ao leste do leste para poder ver o sol nascer mais de perto.
Se quiseres discordar não mande uma carta com palavras rudes ou não ignore por completo a situação, fingir que nada aconteceu é impossível, nunca podemos nos livrar dos fantasmas de nosso subconsciente, talvez um dia possamos convida-los para um jantar, um café no meio da tarde, uma noite de esbórnia em algum bar de quinta categoria, não tente ignorar os fatos, esconder-se de si mesmo durante o inverno ou tentar parecer invisível no meio do frenesi da vida moderna.
Se quiseres concordar não utilize de palavras difíceis, construções frasais cabeçudas ou metáforas impróprias para o meio do dia, apenas diga sim sem rodeios, sem medo de ter dito errado, diga sim, e quem sabe um dia, quando os flagelados tomarem consciência de sua submissão, você possa dizer que as rédeas de sua própria vida estão escondidas no fundo de sua caixinha de lembranças.

Posted: quinta-feira, 22 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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Os que sabem demais que se calem,
aos tolos que reste um pequeno fio de sabedoria.
Que venha o dia da utopia,
que venha mais um dia, seguido de outro dia,
repetidamente criando um aglomerado de papéis amassados,
números riscados no calendário.

Que a ordem seja legitimada como baderna
e que a falcatrua seja considerada poesia.
Viva a falsidade
cantemos odes ao pessimismo e à indescencia,
que as rosas enfeitem o tumulo do plebeu apaixonado,
e a moldura eternize a infelicidade da princesa egoísta.

Os que sabem de menos que gritem a plenos pulmões,
aos sábios, que reste a utopia da razão,
repetidamente, criando assim um amontoado de papéis rabiscados,
palavras sem vida,
sem vida também as letras,
nem mesmo os sábios estão vivos,
se é que existe sabedoria no homem de hoje.

Que a loucura figure no intransigente plano dos padrões,
que a monotonia da vida seja inconseqüente, maravilhosa,
quem sabe até mesmo divertida, não linear
uma curva fechada no final da estrada das desilusões,
dos amores perdidos e das fotos amareladas na parede.
Que a falta de caráter seja motivo de orgulho, de inveja,
os coitados irão clamar por piedade e as crianças por novos pais,
no horizonte um emblema catastrófico separa, divulga,
as cartas estão na mesa, os movimentos estão cada vez mais singelos,
pequenos delírios transformam pedantes em cores vivas,
todos se perdem no meio da falta de assunto.

Aqueles que esperam a vida inteira morrem sem saber o que perderam
e os que perderam demais são condecorados com as medalhas da derrota
não existe um vitorioso, um exemplo a seguir, um modelo perfeito,
somos todos imperfeitos, bagunçados, perdidos no tempo, maldosos,
egoístas e principalmente cegos, somos todos figuras carimbadas,
heróis e vilões de romances mal escritos, filmes em preto e branco,
novelas confusas e poemas desestruturados.

Que a justiça seja feita com as próprias mãos,
aos envergonhados que reste a paixão pela incerteza,
pelas conversas alheias, pelos sonhos decompostos,
uma legião de santos idolatra baseado na falta de caráter,
a porta se torna um monstro, as pessoas se tornam estranhas,
que o recomeço seja recebido com alegria, com polidez,
que seja um novo dia, um novo tempo, um novo acorde.

Por toda a eternidade

Posted: quinta-feira, 15 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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Por toda a eternidade,
por pura e simplesmente ter me criado ocasional
por falta de méritos condecoro-me com botões de camisas velhas
e me rastejo no asfalto quente, no atalho, na contra-mão.
Não faço mais parte dos acontecimentos,
a julgar pela minha total calmaria, não faço parte de nada mais
a não ser de recortes, noticias retroativas.
Por sorte ainda respiro,
entrecortado, mas respiro, aliviado,
ainda consigo ver de cima
o meu condado, meu conselho,
meu semblante bagunçado, meu coveiro
que prepara antecipado, sorridente,
meu lugar de eternamente, meu descanso
por toda a eternidade,
por pura e simplesmente ter vivido, ter sonhado,
rastejado, ora ou outra ter dormido dias seguidos
ter tentado e conseguido parcos desejos, vontades banais,
por ter sido menos que o normal, superior, habitual
por ter sido covarde, lamentavelmente irônico, sarcástico
um homem da vida, de plástico, um homem comum
por toda a vida, com direito a altos e baixos, mas sempre assim
um pouco de mim sempre, conscientemente inconstante,
falsamente rebelde sem causa, sem lar, dançando sem par
por toda a eternidade
por pura e simplesmente ter feito a escolha errada.

Noites Frias

Posted: terça-feira, 13 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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Jamais esquecerei aquelas noites frias,
geladas da porta para fora, talvez na ponta dos dedos,
na ponta do nariz levemente avermelhado.
Noites frias que enalteciam o prazer do abraço,
do deitado ficar a reparar nas imperfeições do teto,
do calor dos beijos, suaves afagos
noites frias que de tempos em tempos voltam a tona,
abruptamente, intensificadas, delirantes,
que tornam a ópera uma seqüência de barulhos dissonantes
e uma epopéia, simples historinha boba de criança.
Noites frias que revelam segredos involuntários,
vontades adormecidas, me fazem pensar melhor,
sentir saudades,
ser saudosista sem ser chato, ser dono dos pequenos prazeres.
Jamais esquecerei daquelas noites frias de muitas promessas,
de horas a fio revelando segredos irrelevantes,
soltando palavras ao acaso, falando bobeira,
ora ou outra deitando e rolando, um beijo,
uma seqüência interminável de beijos, e abraços,
discussões juvenis sobre o amor eterno, a vida a dois,
eu com minha filosofia barata,
ela com a simplicidade de como viver.
Noites frias em que fazíamos do mundo nosso lar doce lar,
do tempo nosso maior aliado e da fala nosso conselho mal dado.
Noites frias que pareciam eternas propositalmente,
olhos nos olhos por horas, vontade de algo a mais.
Eis que um dia o sol surge,
as estações se atropelam, os meses e dias se acumulam
os pensamentos se dissimulam
e os ideiais desaparecem no meio de inconstância.
Os aliados rebelam-se e os ouvintes se tornam falantes,
os conselhos são palavras vazias e o sangue é água que escorre,
a cabala se torna instrumento de angustia
e a razão transforma-se em fúria
enquanto a verdade dissolve-se em plumas de festas morais.
As noites frias voltam intensificadas,
a cada estação que se passa a cada minutos se instala
num outro pedaço do eu,
noites frias carregadas de culpa, de amor,
de um pouco de tudo que quero,
de um pouco de tudo que eu sou.

Posted: sexta-feira, 9 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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Houve um dia em que tudo o que eu mais queria era estar ao seu lado,
mas este dia passou,
veio a chuva forte, um inverno dos mais frios, o sol se escondeu, as nuvens passaram a desenhar coisas desajustadas, formas abstratas demais e então a terra virou lama,
as ruas tornaram-se rios e os rios oceanos.
O tempo já não era assim mais tão precioso quanto foi outrora,
a vida cotidiana passou a ser mais entediante que nunca e não importavam mais os dez mil ao meu lado já que algumas vezes apenas uma já é suficientemente importante, melhor que multidões... os mais solitários são aqueles cercados de pessoas por todos os lados.
Houve um dia em que tudo o que eu menos queria era estar ao seu lado,
mas este dia também passou, assim como são os dias, como são as vontades e necessidades, esgotáveis, limitadas, reflexos de nossa exaustão no lago de nossas inconsistências banais.
Este dia passou despercebido, envergonhado por assim dizer, rastejando para o próximo que se repetiu de alguma forma, mais claro desta vez, ensolarado como a muito não acontecia, o ideal da família perfeita num dia de domingo, propicio a passeios pelo parque e visitas aos ancestrais.

Houve um dia em que tudo o que eu mais queria era estar ao seu lado, mas a inconstante de minhas decisões me levou ao oposto de minha necessidade e inconscientemente acabei fazendo o oposto do que deveria fazer, e quando não mais queria resolvi tentar novamente, terrível engano que me agasalha de tempos em tempos, quando chega o frio, quando chega o dia em que tudo o que eu mais quero... é estar ao seu lado.

Horas exatas

Posted: quinta-feira, 8 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
2

O dia passa, chato, lento
igual ao próximo
o mesmo anterior.

O dia vai e volta
imitando movimentos
do cordão do meu io-io.
As pernas caminham uniformemente até seus templos,
cabeças antenadas no mesmo objetivo egoista,
elas se assistem
se provocam
se agarram se for preciso,
se desgastam,
degustam-se e desperdiçam
o dia chato que passa lento
igual ao anterior
sempre o mesmo.