Tóxico

Posted: sábado, 4 de agosto de 2012 by Monty Cantsin in
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A vida é veneno,
veneno que não se bebe.
Veneno que não mata, ou se mata faz sutil,
faz diferente que morte matada ou morte morrida.
É veneno...
O veneno da vida.

Veneno que corrompe, que destrói,
veneno que estraga,
veneno corrosivo que dissolve carne e osso e o que era toque, agora é pó,
voa no vento juntando-se aos milhões de grãos de areia que unidos formam chão de praia,
e os cacos do veneno são o resto que sobrou daquela que falava demais.

Amor que não se define como veneno mas é, pois mata,
é capaz de tornar o que era sorriso... miséria,
veneno que não se bebe
veneno que se beija e abraça
veneno sutil que um dia faz efeito e tortura
mas com calma,
vem tudo a seu tempo,
vem leve, vem lento,
vem louco por ti e termina,
agora tudo é ruína, é tragédia
a vida é um jogo e o homem um brinquedo que quebra
é veneno que mata por dentro,
o que tomo é o veneno da vida que mata sem causar dor a pele, ao osso ou a carne,
é coração da vida,
do mundo,
e jogado no lixo é somente mais um vagabundo, um problema... apenas refugo.

A vida é veneno.
O veneno da vida,
as vezes lento e doloroso,
as vezes rápido e sutil,
ainda assim veneno que mata.
A vida é veneno
o veneno da vida é você.

Corrosão

Posted: domingo, 15 de julho de 2012 by Monty Cantsin in
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Quem me dera ser possuidor da coragem dos bravos,
possuidor nem que fosse de uma pequena parcela do fervor dos fanáticos, quem me dera...
que houvesse em minha mente o pensamento dos lunáticos,
e em meu coração, o transbordante amor dos excluídos, dos exilados,
que meu cordão umbilical fosse cortado, dos prédios, dos discos,
dos dissonantes acordes do violão desafinado, do trafego, do trabalho,
do dia a dia e seu refrão assaz grudento, incomodo, barulhento,
nos cômodos o lamento daquele que vive só,
nas horas, ponteiros, registros de tempo passado.

Que o fogo de meus olhos fosse o fogo do inferno,
que o sumiço de meus ossos fosse um trunfo de meu leito,
e que das lágrimas de minha elegia surgisse uma ode às terras virgens,
aos pensamentos intocados e aos dizeres alegóricos, fantasiosos.

Quem me dera poder viver todo dia a vida que habita o plano de fundo do cotidiano,
que ano após ano eu pudesse aprender com menos tapas, menos cortes ou feridas,
condecorado ser com mil medalhas merecidas,
hastear a bandeira da verdade libertária, quem me dera...
se ao menos eu pudesse gozar dos prazeres de minhas invenções,
pudesse quem sabe amar, sorrir sem motivo,
se eu pudesse passar um dia inteiro sem reclamar, quem me dera...
saber de tudo um pouco e ainda assim ser especialista,
ser um mártir contra o tempo/espaço e sua postura facista,
dormir quando tiver sono, beber quanto tiver sede,
poder definir o abstrato com simples palavras,
com falhas... moldar o limite existencial de minha utopia.

Quem me dera ser eu mesmo em tempo integral,
ser o rei de meu populacho e fazer de meu condado a capital de um mundo vil,
daria fogo aos pirofágicos e a humanidade o que é do ser isolado.

Quem me dera ser possuidor da razão inabalável, do pleno amor,
do contraste apaixonante de vidas que não se cruzam,
de olhares que não se intimidam, sentidos que não se revelam
e passos que andam mundos.

Quem me dera não desejar a perfeição de seu contorno,
a confusão de sua cabeça, a maldição de seu sorriso,
a controvérsia de seu mundo.
quem me dera,
quem me dera...

Inexistente

Posted: terça-feira, 10 de julho de 2012 by Monty Cantsin in
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Não existe o amor puro,
 o abraço seguro,
não existe o beijo estalado com gosto de quero mais.

O outono deixou de existir,
deixou de existir também o inferno,
o inverno ainda habita o coração dos desalmados,
se é que ainda existe um corpo ou coração.
Deixou de existir o começo, o fim,
 o meio termo já cansado
partiu... como quem não vai voltar.

Não existe a cumplicidade,
a veracidade dos fatos,
foi-se embora o tempo em que o respeito existiu,
foi-se embora o tempo, virou passado,
 vaga lembrança,
 história mal contada,
saudosismo de boteco,
poema rasgado.

Não existe o altruísmo
nem mesmo o abismo do ponto final.
Eu te amo é bom dia, boa noite,
existe a palavra desprovida de valor,
existe o rancor,
nas cabeças confusão,
existe o problema, gigante,
a pequena solução.

Existe o covarde,
existe a hipocrisia,
existe a guerra, a discórdia insiste em existir,
não existe o porto das lágrimas
um dia existiu o sorriso
um dia existiu...
um simples dia
o nada existiu, fez-se verbo,
todavia foi-se em prantos,
nada foi pois nunca nada será.

Deixou de existir o começo,
o poeta deixou de existir.

Dupla Cidadania

Posted: quinta-feira, 28 de junho de 2012 by Monty Cantsin in
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Discuto e reflito                                     se penso e resolvo
     me meto e me sinto                       ser dono do mundo
      descubro o refeito                       e me engano
        fazendo de conta                     descubro
          que é fácil ser falho             ser tolo, ser burro
           difícil é ser puro               fui livre, fui solto
             falante ou pensado        e então conclui
              mais claro é o escuro meu medo, meu ódio
            são flores, são folhas     colméias de abelha
          são casas em margens       serpentes em telhas
        de mares cinzentos               são leves, são doces
      sem coisas, cem foices             mil homens, mil deuses
    distantes pastores                         dominam suas crias
  pastando nos bosques                      donzelas e amores
de amantes fajutos                               constroem as trilhas
                  de pedras marinhas, dispostas no ar