Posted: terça-feira, 27 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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Se quiseres concordar não diga sim
não tente discordar meneando a cabeça de um lado a outro freneticamente,
apenas impeça que a boca dispare palavras sem face,
rumores descompassados, frágeis e desalinhados pensamentos
que culminam a ponto algum, perdem-se na leveza dos dizeres profanos,
na demência dos altos e baixos.
Não tente culpar a falta de inocência do presente pelos seus atos sórdidos
a infância não dura para sempre, é necessário crescer um dia.
A liberdade é apenas um jogo de azar e não existe vitorioso, a sorte é uma garotinha envergonhada que morre de medo de colocar a cara para fora de casa, não tente culpa-la também por ser tão mimada, não tente livrar-se da culpa de viver sem ter amor.
Se quiseres concordar não diga sim,
não venha até mim com pés descalços e mãos cheias,
mantenha a distancia para que eu não lhe machuque com minhas palavras tolas, para que eu não lhe magoe com minhas palavras rudes, meu modo de ser estúpido, meu respirar arfante diante de tudo que me desagrada.
Suas unhas estão sujas de terra,
meu peito este recheado de idas e vindas inconscientes e meu rosto esta marcado pela dança desajustada dos ponteiros bicolores mas ainda assim não me culpe, não atire porcelana e saliva envenenada em minha direção, sou apenas comum, mais um com pensamento desigual, com modo de vida irregular, perdido no meio de vícios e falsas ilusões de noites mal dormidas.
Vista sua melhor camisa com dizeres revolucionários, crie sua própria cartilha de fobias e se afaste do trem no período matinal, venha comigo alimentar os pombos na praça central e se possível, venha comigo nadar no mar de minhas própria incertezas.
Se quiseres concordar não acentue por demais a palavra sim, não repita as mesmas palavras que eu disse para tornar meu surrealismo menos abstrato, menos positivo. Houve um dia em que as desilusões eram como fim do mundo, e a rotina era o mal maior a ser combatido, os guerreiros embriagaram-se com vinho durante noites e dormiram feito criança cansada, os sábios erraram mais de uma vez e o fariseu decidiu que era tempo de rumar ao leste do leste para poder ver o sol nascer mais de perto.
Se quiseres discordar não mande uma carta com palavras rudes ou não ignore por completo a situação, fingir que nada aconteceu é impossível, nunca podemos nos livrar dos fantasmas de nosso subconsciente, talvez um dia possamos convida-los para um jantar, um café no meio da tarde, uma noite de esbórnia em algum bar de quinta categoria, não tente ignorar os fatos, esconder-se de si mesmo durante o inverno ou tentar parecer invisível no meio do frenesi da vida moderna.
Se quiseres concordar não utilize de palavras difíceis, construções frasais cabeçudas ou metáforas impróprias para o meio do dia, apenas diga sim sem rodeios, sem medo de ter dito errado, diga sim, e quem sabe um dia, quando os flagelados tomarem consciência de sua submissão, você possa dizer que as rédeas de sua própria vida estão escondidas no fundo de sua caixinha de lembranças.

Posted: quinta-feira, 22 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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Os que sabem demais que se calem,
aos tolos que reste um pequeno fio de sabedoria.
Que venha o dia da utopia,
que venha mais um dia, seguido de outro dia,
repetidamente criando um aglomerado de papéis amassados,
números riscados no calendário.

Que a ordem seja legitimada como baderna
e que a falcatrua seja considerada poesia.
Viva a falsidade
cantemos odes ao pessimismo e à indescencia,
que as rosas enfeitem o tumulo do plebeu apaixonado,
e a moldura eternize a infelicidade da princesa egoísta.

Os que sabem de menos que gritem a plenos pulmões,
aos sábios, que reste a utopia da razão,
repetidamente, criando assim um amontoado de papéis rabiscados,
palavras sem vida,
sem vida também as letras,
nem mesmo os sábios estão vivos,
se é que existe sabedoria no homem de hoje.

Que a loucura figure no intransigente plano dos padrões,
que a monotonia da vida seja inconseqüente, maravilhosa,
quem sabe até mesmo divertida, não linear
uma curva fechada no final da estrada das desilusões,
dos amores perdidos e das fotos amareladas na parede.
Que a falta de caráter seja motivo de orgulho, de inveja,
os coitados irão clamar por piedade e as crianças por novos pais,
no horizonte um emblema catastrófico separa, divulga,
as cartas estão na mesa, os movimentos estão cada vez mais singelos,
pequenos delírios transformam pedantes em cores vivas,
todos se perdem no meio da falta de assunto.

Aqueles que esperam a vida inteira morrem sem saber o que perderam
e os que perderam demais são condecorados com as medalhas da derrota
não existe um vitorioso, um exemplo a seguir, um modelo perfeito,
somos todos imperfeitos, bagunçados, perdidos no tempo, maldosos,
egoístas e principalmente cegos, somos todos figuras carimbadas,
heróis e vilões de romances mal escritos, filmes em preto e branco,
novelas confusas e poemas desestruturados.

Que a justiça seja feita com as próprias mãos,
aos envergonhados que reste a paixão pela incerteza,
pelas conversas alheias, pelos sonhos decompostos,
uma legião de santos idolatra baseado na falta de caráter,
a porta se torna um monstro, as pessoas se tornam estranhas,
que o recomeço seja recebido com alegria, com polidez,
que seja um novo dia, um novo tempo, um novo acorde.

Por toda a eternidade

Posted: quinta-feira, 15 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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Por toda a eternidade,
por pura e simplesmente ter me criado ocasional
por falta de méritos condecoro-me com botões de camisas velhas
e me rastejo no asfalto quente, no atalho, na contra-mão.
Não faço mais parte dos acontecimentos,
a julgar pela minha total calmaria, não faço parte de nada mais
a não ser de recortes, noticias retroativas.
Por sorte ainda respiro,
entrecortado, mas respiro, aliviado,
ainda consigo ver de cima
o meu condado, meu conselho,
meu semblante bagunçado, meu coveiro
que prepara antecipado, sorridente,
meu lugar de eternamente, meu descanso
por toda a eternidade,
por pura e simplesmente ter vivido, ter sonhado,
rastejado, ora ou outra ter dormido dias seguidos
ter tentado e conseguido parcos desejos, vontades banais,
por ter sido menos que o normal, superior, habitual
por ter sido covarde, lamentavelmente irônico, sarcástico
um homem da vida, de plástico, um homem comum
por toda a vida, com direito a altos e baixos, mas sempre assim
um pouco de mim sempre, conscientemente inconstante,
falsamente rebelde sem causa, sem lar, dançando sem par
por toda a eternidade
por pura e simplesmente ter feito a escolha errada.

Noites Frias

Posted: terça-feira, 13 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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Jamais esquecerei aquelas noites frias,
geladas da porta para fora, talvez na ponta dos dedos,
na ponta do nariz levemente avermelhado.
Noites frias que enalteciam o prazer do abraço,
do deitado ficar a reparar nas imperfeições do teto,
do calor dos beijos, suaves afagos
noites frias que de tempos em tempos voltam a tona,
abruptamente, intensificadas, delirantes,
que tornam a ópera uma seqüência de barulhos dissonantes
e uma epopéia, simples historinha boba de criança.
Noites frias que revelam segredos involuntários,
vontades adormecidas, me fazem pensar melhor,
sentir saudades,
ser saudosista sem ser chato, ser dono dos pequenos prazeres.
Jamais esquecerei daquelas noites frias de muitas promessas,
de horas a fio revelando segredos irrelevantes,
soltando palavras ao acaso, falando bobeira,
ora ou outra deitando e rolando, um beijo,
uma seqüência interminável de beijos, e abraços,
discussões juvenis sobre o amor eterno, a vida a dois,
eu com minha filosofia barata,
ela com a simplicidade de como viver.
Noites frias em que fazíamos do mundo nosso lar doce lar,
do tempo nosso maior aliado e da fala nosso conselho mal dado.
Noites frias que pareciam eternas propositalmente,
olhos nos olhos por horas, vontade de algo a mais.
Eis que um dia o sol surge,
as estações se atropelam, os meses e dias se acumulam
os pensamentos se dissimulam
e os ideiais desaparecem no meio de inconstância.
Os aliados rebelam-se e os ouvintes se tornam falantes,
os conselhos são palavras vazias e o sangue é água que escorre,
a cabala se torna instrumento de angustia
e a razão transforma-se em fúria
enquanto a verdade dissolve-se em plumas de festas morais.
As noites frias voltam intensificadas,
a cada estação que se passa a cada minutos se instala
num outro pedaço do eu,
noites frias carregadas de culpa, de amor,
de um pouco de tudo que quero,
de um pouco de tudo que eu sou.

Posted: sexta-feira, 9 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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Houve um dia em que tudo o que eu mais queria era estar ao seu lado,
mas este dia passou,
veio a chuva forte, um inverno dos mais frios, o sol se escondeu, as nuvens passaram a desenhar coisas desajustadas, formas abstratas demais e então a terra virou lama,
as ruas tornaram-se rios e os rios oceanos.
O tempo já não era assim mais tão precioso quanto foi outrora,
a vida cotidiana passou a ser mais entediante que nunca e não importavam mais os dez mil ao meu lado já que algumas vezes apenas uma já é suficientemente importante, melhor que multidões... os mais solitários são aqueles cercados de pessoas por todos os lados.
Houve um dia em que tudo o que eu menos queria era estar ao seu lado,
mas este dia também passou, assim como são os dias, como são as vontades e necessidades, esgotáveis, limitadas, reflexos de nossa exaustão no lago de nossas inconsistências banais.
Este dia passou despercebido, envergonhado por assim dizer, rastejando para o próximo que se repetiu de alguma forma, mais claro desta vez, ensolarado como a muito não acontecia, o ideal da família perfeita num dia de domingo, propicio a passeios pelo parque e visitas aos ancestrais.

Houve um dia em que tudo o que eu mais queria era estar ao seu lado, mas a inconstante de minhas decisões me levou ao oposto de minha necessidade e inconscientemente acabei fazendo o oposto do que deveria fazer, e quando não mais queria resolvi tentar novamente, terrível engano que me agasalha de tempos em tempos, quando chega o frio, quando chega o dia em que tudo o que eu mais quero... é estar ao seu lado.

Horas exatas

Posted: quinta-feira, 8 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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O dia passa, chato, lento
igual ao próximo
o mesmo anterior.

O dia vai e volta
imitando movimentos
do cordão do meu io-io.
As pernas caminham uniformemente até seus templos,
cabeças antenadas no mesmo objetivo egoista,
elas se assistem
se provocam
se agarram se for preciso,
se desgastam,
degustam-se e desperdiçam
o dia chato que passa lento
igual ao anterior
sempre o mesmo.