Por toda a eternidade

Posted: quinta-feira, 15 de abril de 2010 by Monty Cantsin in
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Por toda a eternidade,
por pura e simplesmente ter me criado ocasional
por falta de méritos condecoro-me com botões de camisas velhas
e me rastejo no asfalto quente, no atalho, na contra-mão.
Não faço mais parte dos acontecimentos,
a julgar pela minha total calmaria, não faço parte de nada mais
a não ser de recortes, noticias retroativas.
Por sorte ainda respiro,
entrecortado, mas respiro, aliviado,
ainda consigo ver de cima
o meu condado, meu conselho,
meu semblante bagunçado, meu coveiro
que prepara antecipado, sorridente,
meu lugar de eternamente, meu descanso
por toda a eternidade,
por pura e simplesmente ter vivido, ter sonhado,
rastejado, ora ou outra ter dormido dias seguidos
ter tentado e conseguido parcos desejos, vontades banais,
por ter sido menos que o normal, superior, habitual
por ter sido covarde, lamentavelmente irônico, sarcástico
um homem da vida, de plástico, um homem comum
por toda a vida, com direito a altos e baixos, mas sempre assim
um pouco de mim sempre, conscientemente inconstante,
falsamente rebelde sem causa, sem lar, dançando sem par
por toda a eternidade
por pura e simplesmente ter feito a escolha errada.

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