Corrosão
Posted: domingo, 15 de julho de 2012 by Monty Cantsin in
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Quem me dera
ser possuidor da coragem dos bravos,
possuidor
nem que fosse de uma pequena parcela do fervor dos fanáticos, quem me dera...
que houvesse
em minha mente o pensamento dos lunáticos,
e em meu
coração, o transbordante amor dos excluídos, dos exilados,
que meu
cordão umbilical fosse cortado, dos prédios, dos discos,
dos
dissonantes acordes do violão desafinado, do trafego, do trabalho,
do dia a dia
e seu refrão assaz grudento, incomodo, barulhento,
nos cômodos
o lamento daquele que vive só,
nas horas,
ponteiros, registros de tempo passado.
Que o fogo
de meus olhos fosse o fogo do inferno,
que o sumiço
de meus ossos fosse um trunfo de meu leito,
e que das
lágrimas de minha elegia surgisse uma ode às terras virgens,
aos
pensamentos intocados e aos dizeres alegóricos, fantasiosos.
Quem me dera
poder viver todo dia a vida que habita o plano de fundo do cotidiano,
que ano após
ano eu pudesse aprender com menos tapas, menos cortes ou feridas,
condecorado
ser com mil medalhas merecidas,
hastear a
bandeira da verdade libertária, quem me dera...
se ao menos
eu pudesse gozar dos prazeres de minhas invenções,
pudesse quem
sabe amar, sorrir sem motivo,
se eu
pudesse passar um dia inteiro sem reclamar, quem me dera...
saber de
tudo um pouco e ainda assim ser especialista,
ser um
mártir contra o tempo/espaço e sua postura facista,
dormir quando
tiver sono, beber quanto tiver sede,
poder
definir o abstrato com simples palavras,
com falhas...
moldar o limite existencial de minha utopia.
Quem me dera
ser eu mesmo em tempo integral,
ser o rei de
meu populacho e fazer de meu condado a capital de um mundo vil,
daria fogo
aos pirofágicos e a humanidade o que é do ser isolado.
Quem me dera
ser possuidor da razão inabalável, do pleno amor,
do contraste
apaixonante de vidas que não se cruzam,
de olhares
que não se intimidam, sentidos que não se revelam
e passos que
andam mundos.
Quem me dera
não desejar a perfeição de seu contorno,
a confusão
de sua cabeça, a maldição de seu sorriso,
a
controvérsia de seu mundo.
quem me
dera,
quem me
dera...